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sexta-feira, 26 de abril de 2013

Perspectivas filosóficas de uma educação permanentemente avaliativa


Muitas vezes, incorremos no erro de limitar o processo avaliativo à momentos de testes ou provas pontuais. Porém, na medida em que a Filosofia adentra e fixa-se como epistemologia peculiar e metaespitemologia a questão da avaliação se torna conflituosa e urgente de reflexão do seu papel em nosso agir pedagógico e filosófico. Para tanto, se lança o convite de revisitar os propósitos fundamentais da avaliação educacional presente na origem da reflexão filosófica grega sobre a educação.

A função da Filosofia, já no período naturalista, é ver aquilo que é necessariamente já visível à ciência e abrange a dimensão do oculto. Nesse sentido, nos afastamos de questionários clássicos que se apartam da reflexão com a realidade. Uma Filosofia que foge ao compromisso com os grandes pensadores que habitaram nossa história não apresenta horizonte de emancipação da realidade.

Desse modo, como fica o ethos - o comportamento - do filósofo diante do pensar?

A proposta grega de Paideia como educação integral carrega inúmeras e vigorosas reflexões sobre essa questão, não somente no período clássico. A modernidade também faz uso dessa postura filosófica frente a educação quando lança o movimento enciclopedista.

Enciclopédia significa ciclo da Paideia, ou seja, envolver-se no processo educacional. Durante o surgimento da filosofia moderna no século XVIII, surgiram vários intelectuais e pensadores que tinham a característica de ler muito antes de escrever: Thomas Hobbes, John Locke (esses ainda no século XVII) Voltaire, Montesquieu e Rousseau. Esses pensadores colaboraram de alguma forma para a publicação da Enciclopédia, livro idealizado pelo matemático D'alembert e pelo filósofo Denis Diderot e que tinha a pretensão de registrar todo o conhecimento humano nas mais diversas áreas em um único livro.

Se para os gregos a educação era Paideia, para os romanos acrescenta-se o ideal de cultivo do espírito, assim como se cultiva o campo. Nesse sentido, uma educação sem cultivo, sem acompanhamento (avaliação no sentido pleno do termo), é estéril. Enquanto o cultivo da educação habita a esfera política, a educação é política por excelência, o que é de interesse comum deve ser exercitado de maneira comum.

A educação para os romanos, em especial os estoicos das Escolas filosóficas imperiais, é compromisso civilizatório, abrange aquilo que desejamos enquanto sociedade e não pode jamais ser confundida como instrução para o trabalho, embora compreenda também o mundo do trabalho como uma das dimensões em destaque no processo formativo para a cidadania plena. O ideal helenista de Educação afirmava que “buscar em toda parte o útil é o que menos convém a homens magnânimos e livres”.

A educação representa a meta de todos os esforços humanos em busca da beleza. Cultura e civilidade estão amplamente ligadas ao processo educacional. A educação pode até não formar o gênio, mas forma o público, nesse ponto reside a particularidade da escola pública. Há significados fundamentais que estão passando ao largo da história dos nossos alunos.

O escopo da educação formal é o aprimoramento da capacidade de discernir. Discernir sobre a multiplicidade de caminhos, em latim curriculum. A linguagem, enquanto diversidade de “dialetos”, pode abrir clareira para o desafio da multiplicidade. Nesse sentido é importante situarmos que os discursos políticos e pedagógicos estão plenos de receptáculos à diversidade e ao direito de cada pessoa em ser quem é independentemente e acima de qualquer coisa. Contudo, a apologia da multiplicidade significa adesão a ela? Para Deleuze, não. “Não basta dizer viva o múltiplo. É preciso fazer o múltiplo.” (DELEUZE, 2003, p.14).

Temos diante de nós, professores de Filosofia que somos, a necessidade de criar uma adaptação dinâmica e constante do Currículo dentro de conduta de atenuação plausível diante de todo arcabouço reflexivo que a história da humanidade nos fornece. Caminhamos para o múltiplo, ou aquilo que algumas correntes pedagógicas nomeiam como flexibilização do currículo. Lembrando que a loucura de uma época é a civilização de outra era.

A tarefa de ensinar a ler e a escrever um texto de Filosofia é do professor de Filosofia e não do professor de português. Apresenta-se diante dessa perturbadora sentença a urgência de fazer com que nossos alunos adquiram uma postura filosófica diante da leitura. Talvez isso possa encontrar seus primeiros passos na medida em que o professor passa a ler junto com os alunos os textos puramente filosóficos.

A missão da Filosofia passa pela elaboração de questões existenciais e complexas sobre a vida aos nossos alunos, mas, sobretudo, também é nossa missão de caráter eminentemente filosófico desfazer problemáticas ou ao menos promover uma reflexão que contribua para isso. O estudante deve ter acesso direto à filosofia. O professor não pode ser obstáculo para isso. Discutir por meio dos textos pode ser a minha morada como professor de Filosofia.

Tal mudança de postura, na qual o educando é colocado face a face com a Filosofia, contribui para com que o aluno aprenda a investigar suas limitações. O filósofo dá um passo atrás, percorre o caminho não como uma seta condenada a ir sempre em frente, só vislumbrando o destino e convertendo-o em obsessão, mas como quem sabe que há outros passos sob os seus e horizontes ainda não contemplados à sua frente. Esse é nosso ethos, que poderíamos nomeá-lo de pedagogia do recuo ou pedagogia do caminho. Essa contribuição da específica da Filosofia deve contagiar também as outras áreas do conhecimento para que a escola possa vislumbrar o espetáculo de uma consciência que pensa.

 

Alex Rodolfo Carneiro
PCNP – Filosofia
 
*Texto apresentado na Orientação Técnica aos professores de Filosofia da Diretoria de Ensino da Região de São José dos Campos - SP

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