O que se lê abaixo é um trecho do livro XI do Ética a Nicômaco de Aristóteles. Devorem...

O efeito da presença dos amigos, por outro lado, parece ser algo complexo. De fato, o próprio fato de ver os amigos é agradável, e de modo especial a quem está passando por uma situação ruim, recebendo dos amigos uma ajuda contra o sofrimento (na verdade, quando o amigo é competente, leva consolação tanto pela sua presença como também através de suas palavras; pois, ele conhece não só o caráter da pessoa que está sofrendo, como também o que ela deseja e sente). Por outro lado, é doloroso perceber que um amigo se aflige pelas nossas desgraças; na verdade, cada qual procura evitar ser causa de sofrimento para os amigos. É por isso que os homens corajosos por natureza se resguardam de comunicar o próprio sofrimento aos seus amigos, e um homem desse tipo, mesmo sem exceder na própria sensibilidade diante da dor, não suporta causar a eles qualquer sofrimento. Além disso, ele próprio afinal, não se aproxima de pessoas inclinadas a choradeiras, pois ele próprio não gosta disso. As mulherzinhas, porém, e os homens demasiado sentimentais gostam daqueles que também se afligem com eles. Ora, é evidente quem em cada coisa é necessário sempre imitar o melhor. A presença dos amigos na prosperidade, no entanto, torna agradável a nossa maneira de viver, proporcionando-nos a idéia de que eles também gozam dos nossos bens. Por isso, parece ser uma atitude positiva convidar com solicitude os amigos na prosperidade (é honroso, na verdade, beneficiar alguém); porém, quanto a convidá-los na desventura, é bom usar de cautela (considerando ser necessário evitar que eles participem o menos possível dos nossos males, obedecendo ao ditado que reza: “para ser infeliz basto eu”). Entretanto, é necessário convidá-los, sobretudo quando eles, com um pequeno incômodo, podem ser para nós de grande ajuda.
É oportuno pois, de nossa parte, prestarmos socorro a quem passa por momentos difíceis mesmo sem sermos chamados e com prestimosidade (de fato, é próprio do amigo favorecer a outros, sobretudo beneficiar a pessoas que se encontram na necessidade, mesmo quando nada pretendem; isso na verdade é mais bonito e mais agradável para ambos); para com aqueles que vivem na prosperidade, porém, é oportuno tratá-los como solicitude, mas só para colaborar (de fato, é justamente por isso que há necessidade de amigos), ao passo que para receber benefícios é preciso proceder com cautela (de fato, não é honroso desejar receber favores). Por outro lado, é preciso igualmente evitar a fama de sermos intratáveis recusando qualquer benefício: como, por vezes, acontece realmente. Portanto, em todos os casos a presença dos amigos parece desejável"
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